Crítica de The Normal Heart
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Crítica de The Normal Heart


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The Normal Heart

Nota: 9,5

O novo filme da HBO se chama The Normal Heart, e já está passando na progra- mação do canal periodica- mente desde o começo do mês. Ele é originalmente uma peça autobiográfica (com per- sonagens de nomes fictícios) que Larry Kramer raivosa- mente escreveu em 1984, quando a epidemia de AIDS ainda nem tinha nome, as vítimas eram todos homens gays, que morriam sem a mínima assistência governamental. Ou seja, para quem gosta de chorar com filme, o drama é prato cheio. A peça estreou em 1985, em Nova York, e os seus direitos de adaptação acabaram caindo nas mãos de Barbra Streisand, que (egocêntrica como ela só, vide O Príncipe das Marés e O Espelho Tem Duas Faces) queria de qualquer jeito que a história se focasse na médica que atendia os doentes (ela interpretaria), mas Kramer bateu o pé e se recusou. A peça só voltou à tona quando ela finalmente estreou na Broadway, em 2011, e retornou pras rodas de discussão.

Ryan Murphy, o criador de filmes como Correndo com Tesouras (que eu amo) e Comer, Rezar, Amar (que eu nunca tive o interesse de ver) e do seriado Glee (no me gusta para nada... sorry) foi o responsável pela direção, com Brad Pitt (entre outros) na produção. Devido ao histórico pouco favorável, o nome de Ryan me deixou um pouco com pé atrás, mas dei uma chance, pelo material original ser bom. E não me arrependi.

Na história, Ned Weeks é um escritor que começa a ver todos os seus amigos morrerem aos poucos devido a uma misteriosa epidemia que assola a comunidade gay de Nova York no início dos anos 80. Ele coleta dados sobre a epidemia com a médica Emma Brookner, e junto com amigos resolve criar uma organização para pressionar autoridades a reconhecer a situação e tomar atitudes. O problema é que a urgência e o estresse da circunstância os levam a ter diferentes opiniões em como lidar com a situação, criando constantes atritos.

Talvez o principal atrativo para o público seja o elenco escalado. É uma verdadeira constelação. Eu achei um pouco irreal, faltou gente mais "normal". Quem acompanha séries badaladas do momento e filmes populares com certeza reconhecerá boa parte deles. Ned Weeks é interpretado pelo galã Mark Ruffalo. Julia Roberts é a médica Emma Brookner (Barbra já deve ter colocado o nome dela na boca do sapo). Além deles o elenco ainda conta com Matt Bomer, de Magic Mike e do seriado White Collar, Jim Parsons, o Sheldon de The Big Bang Theory, Taylor Kitsch, da série Friday Night Lights e Jonathan Groff, protagonista de Looking. Joe Mantello, que fez o Ned Weeks na adaptação recente para a Broadway, aqui assume o papel de Mickey.

Deles todos, Matt Bomer rouba a cena. Apesar de já ter uma carreira expressiva por alguns anos, os papéis que ele sempre fazia eram de homem mais bonito da face da terra. Ainda lhe faltava um papel de peso, que atestasse de fato a sua competência. Julia Roberts também se destaca como a médica deficiente física. Os dois serão provavel- mente os coadjuvantes laureados nas premiações que estão por vir.

A trilha sonora é sempre algo que me chama atenção em filmes. Desde que li a peça e a assisti nos EUA, a canção Praying For Time do George Michael me vinha à cabeça, e eu acabei associando as duas. Infelizmente, Ryan Murphy não teve a mesma idéia e Praying não está na trilha, mas tem outras coisas muito boas da época. Tem Simon & Garfunkel, Roxy Music, Culture Club, Rolling Stones, Sylvester e até Johnny Mathis.

A relevância histórica e política da obra são maiores do que ela, na verdade. Ainda hoje a comunidade gay luta por direitos. É sempre um bom alerta para as pessoas que alegam que gays devem se misturar às outras pessoas e viverem normalmente vejam que a luta da classe não é questão de gays se “guetificarem”, mas de perceberem que ainda são uma minoria, e como todas elas (negros, mulheres, algumas religiões, índios, etc.), não são tratados igualmente pela sociedade e pelas legislações. Precisam se organizar entre si e exigir essa igualdade das autoridades. Naquela época a pauta era a AIDS, mas hoje existem outras tão relevantes quanto.

Eu vi a peça no teatro, e a platéia era composta por pessoas de meia idade, que sobreviveram essa época e viram muitos amigos padecerem. A ausência de jovens era notória. E isso me entristeceu. A geração atual não conviveu com o pânico da epidemia e, ou ignoram, ou não atentam para o que a doença representa, correndo riscos desnecessários. Não se preservam, se esquecendo que a AIDS, apesar de ser controlável hoje em dia, ainda não tem cura.



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