Nicole Kidman é, de longe, uma das minhas atrizes favoritas de Hollywood. Ela me lembrou muito a Elizabeth Taylor em
Quem Tem Medo de Virginia Woolf? São dois papéis muitos distintos, tanto na forma quanto no enfoque. Mas feito com maestria por duas grandes atrizes. E a minha admiração por Nicole como artista é grande. Aqui ela se despe da sua vaidade e se transforma numa mulher comum, com suas rugas e fragilidades, que sofre perdas como tantas outras anônimas. Dá até pra imaginar que essa seja a Nicole do seu dia a dia, em casa. Longe das divas e deusas de
Nine ou
Moulin Rouge. Ela é ousada e faz desde fitas variadas e desafiadoras a obras comerciais como a gente pode ver numa lista como
Dogville,
A Pele,
As Horas,
Da Magia à Sedução,
Batman Eternamente e
A Feiticeira. Ela exercita sua criatividade sempre.
Nicole produziu essa adaptação da peça homônima da Broadway, que deu o Tony a Cynthia Nixon, a Miranda de
Sex and The City, e teve que escolher entre esse papel ou co-estrelar
Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos, do Woody Allen, um papel bem diferente que ela também se daria muito bem, e a fraca substituta estraga... Já tinha ouvido falar na peça, e só o trailer já tinha me conquistado. Adoro filmes de família de baixo orçamento. A direção também era algo curioso pra mim, já que quem ficou em cargo foi o John Cameron Mitchell, que fez
Shortbus e o musical
Hedwig & The Angry Inch, dois filmes que eu não necessariamente gosto, mas acho interessantes conceitualmente, e criou-se a expectativa do que ele faria dessa vez.
A história, de maneira bem resumida, é: casal lida com a perda de seu filho. Algo que me lembrou muito
Gente Como a Gente, mas aqui o conflito é bem diferente. Em
Gente, o ponto de vista é do filho que sobreviveu, seu relacionamento com a mãe, o pai e consigo mesmo depois do incidente. É um dos filmes do backlash contra o movimento feminista, assim como
Kramer vs. Kramer, o que conta um pouco contra eles, já que estereotipam as mães como megeras que fogem do que a moral e bons costumes aceita como mulher ideal.
Diante do dilema dos pais, surgem outros fatores externos que influem na vida deles, como religião, a irmã mais jovem inconseqüente e irresponsável que engravida, o casal amigo que lida há anos com drama semelhante e que eles usam como exemplo do que não querem chegar a ser, a avó que compara a situação com sua própria perda, e o jovem rapaz envolvido no acidente.
A mãe é a Nicole, óbvio. O pai é o Aaron Eckhart, que tá muito bem, mas o filme nem tem tantas cenas para ele se destacar. Além deles o elenco ainda conta com a Sandra Oh, como uma amiga do casal que passa pela mesma situação e vai com eles ao grupo de apoio, e a Dianne Wiest, que já ganhou dois Oscar de coadjuvante por filmes do Woody Allen, e é considerada para premiações também, mas seu nome só saiu na lista do Satellite e do Spirit, para filmes independentes. Talvez ela seja mais conhecida do público por ter feito
Edward Mãos de Tesoura.
Gostaria de falar mais sobre a história, mas qualquer coisa que eu relate seria spoiler. Nicole é uma das favoritas às premiações, e disputa o Globo de Ouro por drama com a Natalie Portman, e é praticamente nome seguro no Oscar, onde deve concorrer com a Natalie e, aparentemente a favorita, Annette Benning, por
Minhas Mães e Meu Pai, filme que não gosto, e não acho que Annette mereça ser premiada. Ela é superior a ele e já fez coisas melhores. Mas ela faz um papel de lésbica e nunca ganhou, o que conta a seu favor. Além de ter perdido duas vezes pra mediana Hillary Swank, carma de vidas passadas, suponho.
É um filme muito melhor do que vem sendo reconhecido. Essa época de premiações nos faz estabelecê-los como parâmetros de comparação, reduzindo-os a obras puramente reconhecíveis se constassem em listas de indicados, como se filmes fossem feitos exclusivamente para este fim. Alguns são, claro, mas não deveriam. E acredito que os que são, quase sempre, não sejam os melhores filmes. Ganham seus prêmios e logo caem no esquecimento.
Uma das coisas que me chamou atenção no filme foi o design de produção minimalista do filme. De muito bom gosto. E como ela contrasta com as imagens do gibi feito por umas das personagens. Eu assisti recentemente
Scott Pillgrim vs. The World, que usa e abusa da estética HQ e vídeo game. Um visual bem diferente do usado em
Rabbit Hole, e ambos funcionam perfeitamente dentro das suas propostas. E ambos fazem do cinema uma mídia visual muito interessante de ver.
Não vi a peça teatral ou a li, mas vejo que a adaptação deve ter sido algo que inspirou muito o processo criativo do roteirista, que também escreveu a peça. Cinema e teatro são duas mídias diferentes, e o filme não tem cenas com longos diálogos como o teatro exige, para que a historia se desenvolva e tenha ritmo, mas abusa de curtas cenas silenciosas ou de poucas falas, extremamente visuais, com close-ups e narrações em off. Alternativas a mais que o cinema oferece.
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