Roland Emmerich é um diretor que ficou estigmatizado por realizar filmes de catástrofe de altos orçamentos (Soldado Universal, O Dia Depois de Amanhã, Independence Day e Godzilla, por exemplo). Seu último trabalho, "2012", foi bastante contestado e talvez por isso ele tenha resolvido fazer uma repaginada na sua forma de trabalhar. Na verdade, ele ainda fez algo meio catastrófico, mas desta vez tentando converter a mente do espectador de que William Shakespeare era na verdade uma fraude. A destruição agora é de um grande lenda da literatura e não mais pontos turísticos do mundo.
Pode assustar, mas tudo é baseado numa teoria Oxfordiana, que acredita que Edward de Vere é o responsável pelos 38 manuscritos intitulados a William Shakespeare. A grande verdade é que na época em que a história se centra, as peças teatrais eram consideradas imorais e repudiadas pela côrte. O fato de Edward ser um Conde de Oxford não lhe permitia assinar suas peças, mas seu gosto pela escrita nunca se esvaiu. Sua mente nunca parou de criar e quando assistiu a uma peça de Ben Johnson, que conseguiu alegrar ao público e ao mesmo tempo demonstrar críticas sociais, ele encontrou um novo motivo para tentar reviver seu sonho e passar a usar o rapaz como representante de seus textos. A questão é Johnson não gostou muito da ideia de assinar a autoria do trabalho de outra pessoa e um tal de William Shakespeare, um ator beberrão, se aproveitou da situação e assumiu como responsável pela obra que marcaria época. Além disso, em meio a todos esses, já interessantes, acontecimentos, é também retratada toda uma intriga política para resolver a sucessão da Rainha Elizabeth I. Aquele velho jogo de interesse que estamos acostumados a ver em filmes que abordam o tema.
Não sei como os mais fanáticos vão se sentir, mas confesso que gostei do que vi e achei a teoria no mínimo interessante. Se é verdade ou é mentira não me interessa. O que eu sei é que é um ponto de vista e como entretenimento me agradou bastante, com as mais de duas horas de execução passando bem rápidas. Não vou muito longe e cito como exemplo o Código da Vinci, que tem suas convicções e foi capaz de argumentá-las de forma interessante. Se concordamos ou não é outro papo, mas não negamos que seja um livro/filme no mínimo intrigante. Outro ponto é que a intriga política é chama muita atenção e termina enriquecendo demais a obra, que por fim se mostra um thriller de bastante qualidade.
Algumas confusões são feitas, principalmente com flashbacks dentro de flashbacks e também por crucificarem tanto a imagem de uma pessoa que é idolatrada no mundo. Há ainda algumas falhas de datas e de acontecimentos que colocam a coisa um pouco em dúvida, mas nada que atrapalhe o bom andamento da obra. Acredito que o diretor tomou licença poética para alterar os fatos verídicos de forma que o filme se torne mais interessante. Outra coisa que mostra o trabalho do diretor é o fato dele conseguir tirar grandes atuações e apresentar um fotografia muito boa, que é auxiliada por um grande figurino, que por sina foi indicado ao Oscar 2012.
É uma produção com mais acertos do que erros e que serve muito para quem topar viajar em sua proposta. Assistir ao longa com resistência daquilo que ele tem a mostrar é perder o seu tempo. Tem que ter a cabeça aberta e aceitar que nosso amado Shakespeare pode ter sido um aproveitador barato. Prefiro continuar acreditando no talento do autor de Hamlet e Romeu e Julieta, mas não deixo de repetir que se trata de algo diferente e intrigante.
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