Deixando de parte as considerações genéricas sobre a dependência de subsídios (só de má fé é que alguém pode consisderar que se pode passar uma vida a produzir e a realizar filmes por carolice), o problema de fundo está, parece-me (e como em muitos casos no nosso destruturado país) na educação.
Vejamos: pondo de parte o cinéfilo e crítico que existe em cada um de nós, e objectivamente, quanto cinema português de qualidade surgiu na última década? Muito, mas mesmo muito pouco. O artigo do periódico relembra dois nomes que marcaram 2009, Pedro Costa (que é, na minha humilde opinião, o grande nome do nosso cinema, desde que “O Sangue” apareceu em 1989, e que é mais reconhecido internacionalmente (basta ler as peças da Sight & Sound para o verificar); e João Salaviza, pela curta premiada em Cannes. Enquanto Salaviza está a despontar (e irá ter sucesso, aposto), Pedro Costa é já um valor confirmado. Mas nesta década que passou, pouco mais há a registar. E o problema tem a génese na educação. Educação cinematográfica, educação na criação de conteúdos e aquela que deveria ser ministrada nas salas de aula. Porque o país cinematográfico é uma espécie de país de terceiro mundo a viver sob o jugo ditatorial: existem os ricos (ou seja, aquele cinema de autor de boa qualidade), os pobres (o grosso da produção nacional) e não existe classe média. Portugal é um país que ou recebe cinco estrelas, ou recebe bola preta (e falo de forma muito lata). O ditador é, claro está, o ICA. Isto porque, e salvo melhor opinião, continua a existir um corporativismo muito difícil de abater, onde imperam as atribuições de subsídios desregradas e que não apoiam o crescimento do cinema português.
Junto a isto, e a necessidade da grande maioria dos novos cineastas de quererm realizar obras intrincadas e sem nexo, com uma incapacidade gritante de contar uma boa história e filmá-la de forma linear, e estamos no sítio que merecemos. A educação cinematográfica é pobre (eu próprio fico por vezes aterrorizado com muitos estudantes de cinema que não percebem porra da história desta arte, e que pretendem ser realizadores sem dar “uma vista de olhos” ao expressionismo alemão, à nouvelle vague ou ao neo-realismo italiano), e tal reflecte-se também no espectador, que não vê bom cinema português, porque ele não é realizado. O Estado salta fora da contenda, e não apoia, os privados sabem que vão estragar dinheiro, porque o material a produzir é pobre, e o bom do realizador português entretem-se a dirigir filmes que, ou nem deviam ver a luz do dia, ou são tão filosoficamente avançados que só haviam de ser projectados em casa deles, tamanho umbiguismo que neles impera.
Dinheiro? E saber?