O Fim do Fantasporto
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O Fim do Fantasporto


Tentei que as situação financeira se resolvesse como todos os anos, mas desta vez é diferente. E por isso venho até vós, como blogger e cinéfilo preocupado, com uma notícia que me tem tirado o sono.

Dia treze de Março, ainda mal tinha acabado a trigésima terceira edição do Fantasporto, foram despedidos praticamente todos os que faziam parte da cooperativa organizadora do Fantasporto, a Cinema Novo. Os convidados não fazem ideia do sucedido. Para eles esta edição foi tão boa como qualquer outra. Ou melhor. Os números divulgados não dão margem para dúvidas: tanto o festival como o Baile foram um sucesso. Então o que correu mal?

O problema em parte foi da sempre anunciada falta de patrocínios. A estrutura fixa, que trabalhava como distribuidora de cinema, começou a ser um custo incomportável na ausência de negócio ou ajudas financeiras para o festival. Faz sentido? Não. A distribuição é um mercado saturado e a conjuntura é péssima, mas teria de haver uma forma de manter a estrutura em funcionamento. Nem que fosse partindo em busca de outro tipo de negócio. Dificuldades todos temos, mas há quem além de dificuldades tenha responsabilidades. O festival não pode parar. Esse é o único passo necessário para o deixar morrer e destruir um legado de mais de trinta anos.

Da mesma forma que cresci e fui educado no Carlos Alberto, nos Lumiére, no Rivoli, no Institute Français, no Passos Manuel, no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, nas salas AMC de Gaia e nas ZON de todo o país, muitos de vocês também o foram. Pois hoje quero que os nossos filhos e as gerações seguintes possam dizer que aprenderam a gostar de cinema no Fantas. Quero que os jovens continuem a marcar na agenda aquelas duas semanas como férias. Quero que os não tão jovens se voltem a sentir com vinte ou trinta anos. Quero multidões que ficam a discutir cinema até ao nascer do sol. Quero ouvir gritos, aplausos e corações acelerados. Quero cinema de qualidade e profissionais que me ensinem a gostar mais de Cinema a cada dia, seja com aulas de mestre numa sala lotada ou numa simples conversa informal à mesa de jantar.

Falhar uma edição é perder tudo o que foi feito. É urgente fazer algo. Nós - o Porto, o Norte, Portugal! - precisamos do Fantas. Se não parte das empresas ou dos governos, então que parta das pessoas, mas o festival tem de ser salvo.
Devem achar que agora vou pedir dinheiro. Não. Sugeria que dessem apenas ideias. O que pode ser feito? O que tem de ser feito? O que está bem e o que está mal? Quem pode ajudar?
Durante quinze dias, dezenas de milhares de pessoas passaram pelo Rivoli. Chegou a hora de saber se foram porque estavam por perto, porque era o acontecimento do momento, porque queriam ver um filme específico, ou porque têm um bichinho escondido a suplicar por cinema, convívio e emoção.
Acredito que se durou trinta e três anos foi porque convenceu pelo menos duas gerações. De que forma podemos chegar à terceira?

O Fantas é um amigo, um refúgio, e uma das coisas que tenho de mais certas na vida. Não o abandonarei nunca. Nem que tenha de o fazer sozinho. Nem que tenha de o fazer com outro nome.



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