A Crise no Sector Cultural. O FantasPorto e o Nosso Pedido Público
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A Crise no Sector Cultural. O FantasPorto e o Nosso Pedido Público


 
O FantasPorto ? Festival Internacional do Porto está com dificuldades. A notícia não é nova ou atual, mas voltou à baila nos últimos dias por causa das notícias que foram publicadas na comunicação social nacional (Público e Agência Lusa), que revelaram que a Cinema Novo (Cooperativa Organizadora do Festival) avançou com um processo de despedimento coletivo para tentar minimizar as despesas da empresa. Durante a 33º Edição do FantasPorto, Mário Dorminsky (Diretor do Festival) já tinha mencionado, pelo meio dos vários discursos públicos que efetuou, que a Cinema Novo realizou um esforço enorme para conseguir preparar e organizar a 33ª Edição do Fantas, porque tinha à sua disposição um orçamento muito limitado. Estes problemas já se tinham repetido, como sabemos, nas últimas edições deste conhecido festival portuense. É de conhecimento público que o FantasPorto tem vindo a receber cada vez menos apoios financeiros por parte do Estado e do Sector Privado, que têm justificado esta falta de apoios ao Fantas e à Cultura com a atual conjetura económica.
Os cortes de subsídios e financiamento do Governo/ Estado podem realmente justificar-se com a crise financeira e, infelizmente, não se restringem apenas ao FantasPorto ou ao Sector Cultural, já que todas as áreas têm sido afetadas por estes cortes orçamentais. É verdade que, quando comparada com as grandes áreas de interesse popular como a Saúde, a Justiça, a Educação ou a Segurança Social, a Cultura não representa sequer uma prioridade mínima para o nosso Estado fortemente endividado que, a qualquer momento, poderá reduzir, ainda mais, as regalias sociais que os portugueses usufruem nas áreas supracitadas. A triste realidade é que o Governo e a Assembleia da Republica têm que se preocupar em resolver muitos problemas e não têm, por isso, demonstrado grande preocupação com o decrépito estado da cultura nacional. Eu acho que o Estado deve investir grande parte do seu orçamento em áreas essenciais como a Saúde ou a Educação, mas também defendo que uma pequena parcela também deve ser entregue à Cultura, nomeadamente a entidades (festivais, empresas ou indivíduos) que consigam rentabilizar ao máximo esses tão importantes cheques e, infelizmente, acho que é isso que não está a acontecer atualmente, porque muitos apoios estaduais são entregues a projetos que, para ser franco, não merecem o dinheiro dos impostos dos portugueses. Eu não vou dar exemplos concretos dentro da área da cultura ou de outra qualquer, mas há por aí muitas empresas e pessoas de diversas áreas que recebem apoios e não fazem nada de importante com eles e, mais grave do que isso, não contribuem para tentar melhorar o estado (cultural, social ou económico) do país. Será que o FantasPorto enquadra-se neste tipo de entidades aproveitadoras? É óbvio que não. O projeto cultural do Fantas é bastante interessante e este é, sem dúvida, um festival com história e cheio de reconhecimentos internacionais que faz muita falta ao Norte de Portugal. Para além de ser dos poucos eventos cinematográficos que se realizam anualmente no Norte, o Fantas também contribui para exponenciar o turismo das cidades do Porto e Vila Nova de Gaia mas, embora traga muitos benefícios à cultura e ao comércio e turismo local, o Fantas não deixa de ter os seus problemas. Para além dos irritantes problemas técnicos que teimam em marcar presença em quase todas as suas edições (e que este ano mancharam as sessões de filmes como "Piéta", "The Deep Blue Sea" e "Face to Face"), o Fantas também pratica preços pouco convidativos para a população do norte do país que, segundo estatísticas recentes, é a mais afetada pelo desemprego e pelo empobrecimento nacional. O preçário do FantasPorto tem que mudar urgentemente. Eu compreendo que os problemas referentes aos apoios financeiros do festival não ajudam a melhorar esta situação, mas se os preços mudarem acredito que mais gente irá ao festival e, quem sabe, talvez assim as empresas privadas comecem a chegar à conclusão que afinal é mais rentável apoiar o FantasPorto do que apostar em certas campanhas de marketing na zona do Grande Porto e Gaia. O Fantas pode ser uma verdadeira mina de ouro para as empresas que apoiem o festival, mas para isso é preciso que mais pessoas comecem a ir às sessões. A 33ª Edição, por exemplo, só teve um par de sessões compostas e, para ser rigoroso, só a Sessão de Abertura e a Sessão de Encerramento é que encheram. Em Portugal, os festivais igualmente grandes como o IndieLisboa e o Estoril & Lisboa Film Festival têm uma percentagem de assistência maior, e até festivais mais pequenos como o MOTELx, o DocLisboa, o Monstra ou até as Mostras de Cinema Italiano e Francês conseguem levar uma percentagem maior de público às suas sessões e, todos estes eventos, têm em comum o facto de terem um preçário bastante acessível. A questão não se prende com os filmes, embora a sua qualidade também seja valorizada, mas tando em conta a parca concorrência e oferta do género no Norte, o FantasPorto tinha a obrigação de apresentar preços melhores.
É claro que o FantasPorto continua a precisar de dinheiro. Se o Estado e o Privado não se chegarem à frente então o que é que o FantasPorto pode fazer? A resposta é simples. Só tem que dar um passo atrás para dar dois para a frente. O Fantas tem que parar de tentar viver acima das suas possibilidades, para assim voltar a ser considerado um dos maiores festivais do mundo. A organização do FantasPorto, que tanto apreciamos pelo trabalho efetuado até agora, tem que fazer de tudo para evitar que o festival morra, mesmo sem os apoios e orçamentos que tanto desejam. Porque não mudar para um local de exibição com um aluguer mais acessível? Porque não cortar na presença de convidados internacionais que, apesar de valorizarem a imagem do festival, não trazem grande coisa ao público do Fantas? Porque não diminuir um bocado a duração do festival de duas semanas para uma semana? Porque não tentar celebrar parcerias com entidades estrangeiras e realizar mostras/ extensões do festival em países financeiramente e culturalmente emergentes para tentar assim obter receitas extraordinárias e, quem sabe, conquistar investidores estrangeiros? Se o Fantas ajudou a criar carreiras (Prova - Andrés Muschietti e Guillermo del Toro) e tem tantos aliados lá fora, porque não pedir a estas pessoas amigas que ajudem o Fantas com apoios financeiros ou que, pelo menos, submetam as suas produções gratuitamente e, já agora, convençam os seus importantes amigos a fazerem o mesmo? Se pagam muito pelas longas-metragens em exibição (desconheço como funciona o sistema de submissões neste certame), porque não trazer menos quantidade e apostar mais em projetos de cineastas emergentes que só querem mostrar o seu trabalho, afinal de contas, se em Portugal existem muitos com esta ambição, no estrangeiro também deve haver, certo? Porque não cortar na publicidade paga e apostar em formas de publicidade mais baratas. O Fantas até apoia os sites amadores nacionais (Encontro Nacional de Blogs e Acreditações) como o Portal Cinema, porque não então apostar um pouco mais nestes meios e coordenar esforços com a nossa modesta categoria, que está disposta a "dar o litro" e a fazer o máximo de publicidade, por este e por outros eventos e projetos nacionais, de forma gratuita? Porque não dar a mão às pequenas produtoras e distribuidoras nacionais e internacionais, que até podem ter interesse em estrear ou exibir as suas produções no Fantas de forma gratuita? Porque não recorrer à ajuda dos pequenos negócios locais, através da troca de serviços e ajuda, para tentar captar a atenção do público? Há apoios demasiado pequenos quando a necessidade é grande? Enfim, estas são apenas sugestões que até podem ser impossíveis de concretizar ou desfasadas da realidade, mas, como amigo do FantasPorto, não quero ver este, ou outros projetos em situação semelhante, terminar por questões financeiras. Se o Estado e os Grandes Privados não se mexem, então há que dar um passo atrás e reavaliar a situação. Se for necessário, porque não procurar novos meios e adaptar as condições disponíveis à situação atual? Eu dou o exemplo recente do FESTin, que pediu ajuda ao sistema crowdfunding para arranjar verbas para assim conseguir atribuir prémios monetários aos vencedores. Uma boa ideia, mas como esta há mais. Se os meios tradicionais não funcionam, bora lá experimentar alternativas. As coisas podem ficar piores que a extinção ou insolvência? Os portugueses são, por natureza, um povo resiliente. Todos os festivais, empresas e indivíduos ligados à cultura que estejam atualmente a passar por dificuldades que, por variadas razões, não enfrentaram no passado têm agora que confirmar esse estatuto. O Portal Cinema está aqui para vos ajudar e para discutir soluções, sejam grandes festivais ou pequenos cineastas a tentar singrar neste mundo competitivo. Eu lanço aqui o pedido público para que qualquer empresa ou pessoa numa situação precária tente ao máximo não desistir e, acima de tudo, que tentem não esquecer as vossas origens e as necessidades do público português, esse povo eternamente sofredor que é constantemente alvo de injustiças mas que adora a sua cultura e os seus projetos.



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