Cinema
Resenha de Filme: A Felicidade Não Se Compra (It´s a Wonderful Life)
O carismático George Bailey (James Stewart) é um sujeito inteligente e talentoso, desses que poderia, e conseguiria facilmente, alcançar sucesso fora dos limites de sua pequena cidade. No entanto, o apego e respeito ao negócio do pai, um banco de empréstimos para pessoas pobres, fez com que o homem desistisse de um futuro mais confortável em prol de trabalhar pelo bem estar daquelas pessoas simples. O altruísmo de George o fez deixar sua própria vida em segundo plano e assim a narrativa, paralelamente ao mote principal, nos faz acompanhar o seu melhor amigo ascender financeiramente e seu irmão fazer carreira como militar, chegando até a ser condecorado pelo Presidente americano.
Tanto uma como a outra situação de sucesso pessoal evidenciada em contraponto a realidade de George, poderia também ser a verdade do nosso protagonista, mas mesmo sempre se questionando, o homem parece feliz na sua vida simplória e de poucas aspirações. Importante ressaltar, que apesar das dificuldades, George tem o que muitos almejam e nem sempre alcançam: um relacionamento de amor mútuo com sua esposa e quatro filhos que são a razão de sua existência. Existência singela, mas provida de muito amor. O que George não contava é com o sumiço de uma importante quantia em dinheiro do seu banco. Tal circunstância o levará por uma jornada de infortúnios, principalmente pelas constantes investidas que sofre do proprietário de um banco majoritário rival, ávido por explorar as mesmas pessoas que George acolhe.
A perda de tal soma em dinheiro, também fará com que George fique na miséria com sua família. Um verdadeiro terror na vida daquele valoroso homem, nem tanto pelo dinheiro, mas pelo bem-estar dos que ama. A terrível noticia surge na véspera de Natal, momento que deveria ser de comemorações e após uma briga com a esposa, bêbado e desorientado, George sai sem destino pela cidade. Em sua peregrinação, depara-se com um parapeito de uma ponte e desesperado, pensa seriamente em um suicídio, mas será que esse exemplo de retidão moral, dotado do já citado altruísmo, não merece uma segunda chance? Existe alguém olhando de maneira especial por ele? Nada mais justo para quem sempre cuidou com tanto carinho dos seus próximos... Sim, George tem alguém que guarda por ele, alguém preocupado com seu destino e que lhe envia um Anjo sem asas para mostrar ao abalado homem como sua vida é importante e única.
A Felicidade não se Compra é uma obra que todos os adjetivos positivos podem parecer poucos. Resenhado ao máximo, fixo na lista dos melhores filmes de todos os tempos e categórico quando se fala de uma obra cinematográfica que evoque com qualidade o verdadeiro espírito natalino. Pode-se até dizer que o filme do diretor ítalo-americano, Frank Capra, é uma produção natalina, mas o que realmente vemos é uma realização que transcende sua própria temática. A narrativa, deveras moderna, prima em remontar aqueles sofridos anos que o povo americano passou. Pessoas abatidas e combalidas pelo pós Grande Depressão, muitos ainda sem perspectiva, mas que não perdiam a fé em tempos melhores, procurando a felicidade que os espreita em alguma esquina.
Talvez na intenção de homenagear o então resignado povo americano, o filme é construído de forma decorosa. Com uma montagem eficiente e agradável, mesclando assim comicidade e dramaticidade na medida certa e emocionando naturalmente, A Felicidade Não Se Compraainda conta com uma atuação mágica de James Stewart. O ator, quase sempre criticado por interpretações caricatas (críticas, no meu ponto de vista, injustas), aqui traz um George carismático, sincero, ainda que edificante, e protagonizando seqüências verdadeiramente emocionantes. Um outro destaque fica para os Efeitos Especiais a cargo de Daniel Hays e Russell Shearman. Devemos lembrar, estamos falando de uma produção de 1946, não existia CG, e as cenas em que o Céu é emulado, mostrando a conversa entre os Anjos, é dotada da magia que somente a Sétima Arte pode proporcionar.
Hoje em dia, um filme como A Felicidade não se Compra pode soar ingênuo, até porque a própria humanidade parece ter perdido boa parte da singeleza e romantismo de outrora. Entretanto, deve se destacar que Frank Capra realizou uma obra marcante dentro do próprio universo do cinema, com uma temática sempre revisitada e que provavelmente criou muitos clichês modernos. Essa é a minha dica de filme para o Natal. Gostaria que o texto tivesse saído mais emocional, porque esse é um filme que aprecio muito e que ainda me comove com seu epílogo tocante que saúda a verdadeira essência do ser humano e da vida. Para quem ainda não assistiu, os dias 24 e 25 de Dezembro são datas oportunas para conhecer essa maravilha e para quem já conhece, nunca é demais rever essa obra-prima. Desde já saúdo os leitores com um Feliz Natal e que possam ter a verdadeira felicidade em suas vidas, aquela felicidade que não se compra.
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