Resenha de Filme: Laranja Mecânica (Clockwork Orange)
Cinema

Resenha de Filme: Laranja Mecânica (Clockwork Orange)



Laranja Mecânica é um dos grandes clássicos do cinema e merece uma análise crítica interessante sobre o tema que aborda e os valores que emprega. A título de curiosidade seu roteiro é adaptado do livro, homônimo, de Anthony Burgess, lançado no ano de 1962 e o diretor responsável pela sua execução é nada mais nada menos do que Stanley Kubrick ( 2001 - Uma Odisseia No Espaço, O Iluminado, Spartacus ). O filme foi indicado, em 1972, as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e  Melhor Edição, mas não levou nenhum dos prêmios.

Na trama caminhamos ao lado do anti-herói  Alex DeLarge, garoto que comanda uma gangue de drogados delinquentes  que saem pelas noites com o intuito de fazer arruaça, batendo, estuprando e matando pessoas. A diversão deles é cometer atrocidades com quem nunca lhes fez nenhum mal e para tal, nunca se preocuparam com os problemas que enfrentariam com a lei ou até mesmo os direitos humanos dos outros. Tudo era uma espécie de um ritual que começava bebendo leite, ouvindo música clássica e terminava cometendo crimes sem piedade. Aos poucos o grupo foi se rompendo e as lideranças passaram a ser questionadas. Essa disputa "política" interna, ocasionou na traição de seu liderados, que armaram para que Alex fosse preso. Na delegacia, ele se inscreveu para receber uma espécie de tratamento de reabilitação diferente de tudo já visto antes. Em 15 dias ele seria uma pessoa livre, mas vivenciaria um método cruel de condicionamento psicológico, que seria capaz de reverter sua capacidade de cometer o mal.

O grande ponto chave do filme é a segunda metade, que se retrata após a libertação do rapaz. Nos encontramos forçados a pensar sob uma ótica tensa e desumana, sobre a maneira como a sociedade acolhe o rapaz, que até então tinha sido curado de todos os problemas e que tinha cumprido a pena pelos crimes que cometeu. "Qual seria a pior atitude?" é a pergunta sem resposta que fica na cabeça do espectador, que não sabe se sente realmente pena do rapaz ou gosta da retaliação que ele sofre. Além disso, somos apresentados a toda esperteza politica que não está nem um pouco preocupada com nada além de seus próprios desejos. Diminuir o número de presos por cela e ter apoio da população em busca de uma reeleição. Uma pergunta que pode-se deixar em aberto é..." É um crime tirar o livre arbítrio de um ser humano?"



A violência, ou como podemos dizer, ultraviolência apresentada no filme foi capaz de chocar as pessoas em sua época e trouxe a tona alguns pensamentos sobre o cinismo social, que até hoje podem ser discutidos. Vale ressaltar que quando usamos o termo violência, não estamos nos referindo ao apelo físico da coisa e sim a todo o trabalho que envolve diversas formas deste mal e trabalho envolto a um terror psicológico apresentado de forma magistral. A tão citada violência é dividida assim em duas parte que se resumem ao ato de praticar a violência contra os outros, como necessidade pessoal de vida, e outra a qual a sociedade se demonstra violenta e apegada a supostas determinações da lei para se justificar.

Malcom McDowell (A Mentira) entrega uma atuação incrível e que consegue distinguir muito bem os dois momentos do filme. As expressões físicas são perfeitas e se fundamentam na expressão do olhar e até mesmo no tom de voz e jeito de andar. O começo arrebatador, o medo do treinamento e o cinismo da cura são muito bem trabalhados pelo ator que tem nessa, sua melhor aparição no cinema até os dias de hoje. Alex continua sempre o mesmo, e o que muda são os seus impulsos, que eram trabalhados em prol da violência, depois pelo medo dela e depois pelo cinismo que o mundo lhe propôs como salvação. A coisa toda ficou tão perfeita, que o diretor deu declarações de que o filme não teria o mesmo efeito se fosse feito com outro ator.


Kubrick demonstra uma direção muito segura e inovadora, que trabalha todos os aspectos de um filme de sucesso. Sua trilha sonora apresenta clássicos como a 9ª Sinfonia de Beethoven ou Singing in the Rain de Gene Kelly. Seus cenários são coloridos e chamativos, que têm sempre uma espécie de mensagem subliminar ao fundo e seu método de filmar era baseado no que ele queria que fosse demonstrado, da forma que fosse, sem medo da crítica ou do resultado final. O resultado final, que por sinal é incrível, com o pensamento de que aqueles que condenaram o réu, o fizeram de santo para conquistar a população.


Cinema Detalhado: 10,0
IMDB: 8,5
Rotten Tomatoes: 8,3


Trailer do Filme:




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