Seção CINEMA // Crítica A Verdade Nua e Crua
Cinema

Seção CINEMA // Crítica A Verdade Nua e Crua


O Chauvinista e a Puritana

A Verdade Nua e Crua // The Ugly Truth


Nota: 5,5


Como eu já tinha dito, comédias românticas normalmente são boas pra não se pensar demais. Desligar o cérebro e relaxar. Mas pensando por outro lado, elas normalmente carregam consigo uma carga pesada de valores tão retrógrados, ultrapassados, que eu até me pergunto qual a razão deles ainda existirem, e fica difícil só relaxar e deixar levar. Foi assim com A Proposta, e não foi diferente com esse aqui também. Gosto muito da Katherine Heigl, adoro seu trabalho desde que comecei a ver Grey’s Anatomy, onde ela é uma das minhas personagens favoritas, e também em Ligeiramente Grávidos e Vestida pra Casar, e o Gerard Butler me chamou atenção desde que vi Querido Frankie, mas ele não fez nenhum filme que realmente me agradasse desde então.

A história é sobre a Katherine, uma produtora de TV, em busca do amor. É o que todas buscam nesses filmes não? Ela produz um telejornal matinal que vem caindo na audiência. Então seus chefes resolvem contratar o Gerard, um apresentador de um programa noturno chamado A Verdade Nua e Crua (ou A verdade Feia, como seria a tradução ao pé da letra do inglês) que fala sobre relacionamentos, pra fazer comentários no jornal... sobre relacionamentos. O problema é que o seu tom machista, misoginia e objetificação da figura feminina nos seus comentários desagradam e muito a Katherine.

Nesse primeiro momento que ele entra no ar, a cena é ridícula. Ele causa uma briga entre os dois âncoras do telejornal, que são casados, diga-se de passagem. Enquanto ele insiste que o papel da mulher é simplesmente fazer o homem despertar os seus instintos mais primitivos, como diria Roberto Jefferson, ela jamais pode emasculá-lo, inibir o macho viril que reside dentro dele, a Katherine esperneia nos bastidores porque disseram “ereção” no ar. Não conseguiria decifrar quem é o mais pré-histórico dos dois, apesar dos antagonismos.

No meio das briguinhas dos dois, ela diz que só queria um homem ideal. Ele a desafia a encontrá-lo, e eis que surge o seu vizinho, nu com a mão no bolso, num primeiro momento, pra não perder o ibope. Mas ele é um médico, em forma, fino, educado, gentil, ouve música clássica, faz passeios românticos, e gosta de cachorros, mas ama gatos. Ou seja... Um gay. Mas não é... Esse ser perfeito, acima do bem e do mal, é feito pelo Eric Winter, que eu "conheci" fazendo o irmão do Rob Lowe em Brothers and Sisters. Ele era o ministro evangélico gay, que tem um relacionamento com o filho da Sally Field. Existe coisa mais hipócrita e contraditória do que ser um missionário religioso gay? Enfim, ela então inicia um flerte com ele, mas não faz a mínima idéia de como laçá-lo de vez, e adivinha quem a ajuda nessa jornada?

Aí a história segue aquela linha manjada de Hitch – Conselheiro Amoroso ou Amigos, Amigos, Mulheres A Parte, duas preciosidades cinematográficas... O Gerard ensina, e ela pratica. Tudo para agradar o seu homem. Só faltou ele ensiná-la a cozinhar, lavar e passar. Mas como o Eric é coadjuvante na história, só há uma foto de divulgação dele no filme (ver acima), sem contar a foto da bunda, e também não aparece em nenhum dos cartazes do filme, a gente nem precisa adivinhar como será o fim dessa novela.

Mas agora vem o spoiler, que eu não poderia deixar passar em branco no comentário, por favor, não leiam se quiserem ver o filme. Ou leiam... No fim das contas, apesar de ela reconhecer que ela não foi autêntica em nenhum momento com o cara, e que ele não a conhece, ela troca o bonitão perfeito pelo bonitão machista, porque a verdade nua e crua é que a mulher tem que fazer tudo pra agradar o homem, mas ele pode muito bem ser aceito do jeito que ele é. Se isso não for discriminação, eu não saberia definir o que seja. E ainda vem a Miss Venezuela (atualmente Universo) dizer que as mulheres conquistaram o mesmo espaço dos homens. Santa ignorância, Batman...



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