O que será que me fez levar tanto tempo pra ver um filme com Meryl Streep, Diane Keaton, Leonardo DiCaprio e Robert DeNiro? Não consigo pensar numa justificativa plausível. Marvin’s Room era uma peça de teatro que foi adaptada para o cinema,como quase todo o material feito em Hollywood. Quase tudo vem de algum livro, ou alguma peça. Roteiros originais são escassos. E também é dirigido por um diretor de teatro, Jerry Zaks, que vários Tonys. O elenco eu já citei na primeira frase, e o roteiro foi adaptado por John Guare e pelo próprio escritor da peça, Scott MacPherson, que morreu em 1992, anos antes do filme ser filmado e lançado.
A história é sobre duas irmãs, Diane e Meryl. Quando o pai delas sofre um derrame e tica incapacitado, a irmã mais velha, a Diane, se dedica aos cuidados dele e da tia (feita pela Gwen Verdon, a maior bailarina da Broadway nos anos 50 e 60 e esposa de Bob Fosse, diretor de Cabaré), que é doente da coluna desde criança e é viciada em novela, enquanto a mais nova, a Meryl, ignora a família e se muda para outro estado onde se casa, e perde contato. Só que depois de 20 anos a Diane é diagnosticada com leucemia e precisa de um transplante de medula, e entra em contato com a irmã, que vai à sua ajuda com os dois filhos, o Leo, o mais velho, revoltado por nunca ter tido uma presença paterna e é internado numa clínica psiquiátrica após tocar fogo na casa, e o mais novo, um mosca morta.
Vendo esses filmes é fácil para a gente que tá de fora julgar o que é certo ou errado fazer, mas só vivendo a situação mesmo pra saber o que a gente de fato faria ou não. Até que ponto a gente estaria disposto a abdicar da nossa liberdade e individualidade pra ajudar nossos parentes que não têm mais como cuidar de si próprios e precisam de ajuda. E é uma situação muito mais comum do que se imagina. São várias as pessoas que fazem isso, e eu acredito que elas devam viver dilemas internos, sempre se perguntando como seriam suas vidas se elas pudessem ter se dedicado a si mesmas.
Na minha família mesmo teve casos bem parecidos. Eu poderia falar sobre eles, tirando a parte dos dilemas, porque eu não sei o que se passa na cabeça de cada um. Tipo o meu avô que ficou esclerosado, e precisava dos filhos pra cuidar. Uns ajudavam mais, outros menos, como cada um podia, e isso sempre gerava discussões entre eles. Pouco tempo depois que ele morreu a irmã solteirona dele que morava sozinha no interior trilhou pelo mesmo caminho e acabou sendo trazida pra morar na capital com a minha avó, onde ela veio a falecer também.
Ela não era das pessoas mais fáceis de lidar. Minha avó, que conviveu com ela desde jovem, que o diga. Eu me lembro de quando eu era criança e ela vinha visitar e começava com as brincadeiras chatas dela. Puxava a chupeta e beliscava. Eu tinha ódio. Quando eu cresci passei a levar as chatices dela na brincadeira. Ela às vezes se irritava, achava que eu tava debochando dela. Talvez eu estivesse mesmo... E no fim ela já nem se lembrava mais de mim, então cada vez que me via eu era um intruso diferente no mundo dela, e o tratamento dependia do humor dela no dia. Mas a gente gostava dela. Talvez por ser família. Tenho certeza que as opiniões das outras pessoas sobre ela eram diferentes.
Voltando ao filme, acho que a única crítica que poderia fazer a ele é sobre o cartaz. Por ele, parece ser uma história de uma família de classe média alta, e é bem longe da realidade. No filme a Diane assume as rugas e a idade e no cartaz não aparenta nada disso. Nem dá pra notar como a Meryl é cafona. Dá pra ver pelas outras fotos do post. Outra crítica seria em relação da utilização da canção feita pela Carly Simon para o filme. Apesar da letra meia-boca, a melodia é linda, e deveria ter sido usada durante o filme, e não nos créditos finais.
Apesar da carga dramática do filme, ele também prima pelo senso de humor. Sabe quando a gente ria das excentricidades da Shirley MacLaine em Laços de Ternura? Aqui a gente pode rir da tia avó que tem problemas da coluna e anda com uma maquininha que dá choques anestésicos, da falta de decoro e compostura da Meryl e das tentativas do Leonardo de chamar atenção.
Filmes como esse também me provam como a Meryl é de fato a maior atriz de Hollywood. Ela pode fazer uma sobrevivente de campos de concentração, uma lésbica, uma freira intransigente, uma editora de moda, uma líder sindical, uma artista em reabilitação ou uma amalucada como a Lee todas com a mesma intensidade. Ano que vem ela pode ganhar mais um Oscar por Julie & Julia, mas já na primeira premiação da temporada, a vencedora foi a Hillary Swank... Será que a Academia vai preferir dar um terceiro Oscar pra Hillary antes da Meryl?
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