Seção CINEMA // Crítica Little Ashes
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Seção CINEMA // Crítica Little Ashes


Segredos e Mentiras

Little Ashes


Nota: 6,5

Antes de virar übermoviestar mundial por Crepúsculo, Robert Pattinson já tinha sido contratado pra fazer Little Ashes, um filme sobre 3 futuros expoentes das artes contemporâneas do século 20 durante o início da ditadura de Franco na Espanha. Os 3, no caso, seriam Luis Buñuel, Federico García Lorca e Salvador Dalí. Um cineasta, um escritor/poeta/dramaturgo e um artista plástico respectivamente, para os leigos. Durante a faculdade, quando estudei história do teatro, há uns bons anos atrás, eu fiz um trabalho sobre o teatro europeu no começo do século 20, e falei sobre Garcia Lorca e li Bodas de Sangue. Quando soube do filme me interessei!

O filme é uma adaptação de uma peça teatral homônima espanhola, e é uma co-produção entre Espanha e Inglaterra, o que explica o elenco e a equipe de produção anglo-saxã. O diretor é o Paul Morrison, que fez uma história meio Romeu e Julieta falada em galês (ou gaélico, não lembro...) que foi indicada ao Oscar de filme estrangeiro em 2000, mas perdeu pro Tudo Sobre Minha Mãe do Almodóvar.

Bom, a história se baseou em declarações do Salvador Dalí nos anos 80, sobre sua relação com García Lorca. Todo mundo sabia que algo de podre aconteceu naquele reino, mas provas, nenhuma... Inclusive o título do filme é baseado em uma carta que Lorca escreveu para Dalí. Não é spoiler! Isso é a primeira coisa que se diz no filme! Enfim, eles se conhecem na faculdade, se envolvem e tal, são amigos do Buñuel, que não é exatamente “gay-friendly”, mas o filme joga no ar que ele de alguma forma poderia ter sido “bi-curious” e tinha uns probleminhas de auto-aceitação. Assim como Dalí... O único bem resolvido ali, na verdade, era Lorca. E, de longe, o mais corajoso deles.

O Robert faz o Dalí. Não é segredo pra quem me conhece que eu o acho um ator de uma expressividade praticamente nula. Ele só se sai bem quando a cena apenas requer que ele dê um olhar penetrante, o que não é necessariamente o caso desse filme. Dalí não é um papel fácil, já que ele foi uma pessoa extremamente, digamos, “pitoresca”, então pra cair no caricato é um pulinho. E é justamente o que acontece. Ele passa do ponto! Pelo menos ele se esforçou. E quanto à parte física, ele se parece tanto com o Dalí quanto eu sou a cara do Brad Pitt. E a caracterização que fizeram nele pareceu o Caco Ciocler no Quinto dos Infernos, aquela minissérie da Globo deturpadora (ou não!) da história do Brasil.

Buñuel é um mero coadjuvante no filme, que só sobra nas cenas... Quem o faz é o Matthew McNulty. É, eu também não faço idéia de quem seja. Agora eu sei! E dos 3 principais, o único que é feito por um espanhol de verdade é o Lorca, que é vivido pelo Javier Beltrán. Muito prazer... O Javier fazia versão teatral e foi o único aproveitado. E é o melhor deles. Talvez por já estar mais familiarizado com a história. Mas ele tem seus altos e baixos. Algumas cenas boas e outras muito meia-boca. E ele é também o único que se parece de fato com a figura histórica representada.

Filmes como esse falados em inglês normalmente me incomodam. Tipo O Leitor, que se passa na Alemanha, O Último Imperador, na China, etc. A história ganharia muito mais impacto e veracidade com a língua espanhola sendo falada. Ela é utilizada no filme, mas normalmente quando Lorca declama alguma poesia, ou algo do tipo. Outras coisas eu achei que podiam ter sido mais bem cuidadas no filme. A fotografia ficou muito contemporânea. Mesmo com a direção de arte antiga, os figurinos, etc., parecia algo recente, filmado num prédio antigo. Não passava a idéia de século 20. A caracterização das personagens também. O Lorca de 38 anos e o de 22 anos têm a mesma cara. O pano de fundo da ditadura franquista também poderia ter sido melhor aproveitada, acrescentando uma carga dramática mais forte no filme. A gente de fato só sente a importância dela no filme, no final.

O filme não foi muito comentado, teve lançamento limitado, e provavelmente por aqui só deve chegar em sessões de arte, ou direto em DVD. Mas ele não foi um fracasso, até por ser um filme independente de baixo orçamento. Nos EUA ele foi lançado em maio e teve sucesso com as adolescentes, embaladas por Crepúsculo. Eu aposto que se fizessem a elas perguntas sobre o filme no final da projeção, 90% não saberia responder nem os nomes das personagens, nem quem eles foram. As mentes delas estavam definitivamente em outra órbita. Mas o filme acima de tudo me provou que o Robert como ator é corajoso e pode progredir bastante. Só não sei quanto tempo isso vai levar...



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