
Enfim... Splice é o novo filme do Vincenzo Natali, que escreveu e dirigiu O Cubo, aquele “clássico” pré-Jogos Mortais que todo adolescente e jovem adulto deve conhecer, e tem no elenco o Adrien Brody, aquele que ganhou o Oscar por O Pianista (o mais jovem a ganhar na categoria principal até hoje), fez aquele super discurso, mas meio que sumiu do mapa depois. Lembro que ele fez King Kong e A Vila depois. E também da Sarah Polley, que nunca foi muito famosa do grande público, mas fez uma comédia que eu adoro chamada Vamos Nessa, e recusou o papel de Penny Lane em Quase Famosos, que deu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar a Kate Hudson.
Bom, a história é sobre uma empresa farmacêutica que financia uma equipe de cientistas, liderados pela Sarah e pelo Adrien, que são um casal. Eles criam criaturas que são mutações feitas a partir das genéticas de diversos animais. São asquerosos. Parecem chiclete mascado. E aparentemente a partir desses seres podem-se estudar curas para diversas doenças.
O próximo passo deles é incluir genes humanos nas criaturas. Aí é que entram as questões éticas e morais da ciência e tal, e a empresa patrocinadora breca o casal 20. Mas, sorrateiramente, eles decidem levar o plano à diante, e fazer a tal experiência por debaixo dos panos. Aí nasce a tal criatura hedionda.
Eles fazem um rápido estudo e percebem que esse bicho envelhece mais rapidamente que o normal (incrível como tudo que envolve clonagem ou experiências genéticas coloca essa desculpa no meio), e provavelmente viverá pouquíssimo. E como tem doido pra tudo nessa vida, eles decidem criar essa coisa, que ninguém sabe no que vai dar. É aí que todo mundo já sabe que nada de bom pode vir por aí. A gente só não sabe como exatamente. E isso é o que nos prende.
O roteiro, apesar de ter sua cota extrapolada de bizarrices, é instigante e mantém a platéia fisgada do começo ao fim. Tem um bom ritmo, flui rapidamente, e mal percebemos o tempo passar. Assim como O Cubo. Mostra que provavelmente poderemos esperar coisas melhores vindas de Natali num futuro próximo. O elenco é afiado, em especial a atriz que faz a fase adulta do ser de espécie inominada, a francesa Delphine Chanéac, que é aparentemente muito boa (não vi outros trabalhos para dar um veredito mais preciso) e me lembrou muito a Samantha Morton em Minority Report.
E claro, como todo filme que aborda esse tema, as discussões sobre as conseqüências de clonagens e práticas afins são levantadas. O famoso “brincar de Deus”, que as religiões, em quase suas totalidades, gostam de recriminar e censurar. Eu interpretei que o filme é abertamente contra a esse tipo de experimento, o próprio enredo em si já mostra isso, mas eu não sou totalmente contra ou a favor, porque pode haver benefícios, mas também há outros seres vivos envolvidos. Mas como quase tudo que é ou foi tabu na sociedade, como bebê de proveta, por exemplo, acredito que um dia vai passar a ser banal. O que só comprova como religião cada vez menos tem influência nas pessoas. Pelo menos no mundo ocidental...