Tempos de Censura
Cinema

Tempos de Censura


Por Antonio Ricardo Soriano
?Toda Nudez Será Castigada? e ?Sacco e Vanzetti?
Em 22 de Junho de 1973 (sexta-feira), as luzes do cine São Geraldo, em Belo Horizonte, acenderam-se no meio da sessão e uma voz não identificada intimou os espectadores de ?Toda Nudez Será Castigada? a esvaziarem a sala. Foi uma ?grosseria?, segundo a platéia escorraçada e os jornalistas proibidos de noticiarem a expulsão. Dez filmes haviam sido censurados e teriam que ser retirados de cartaz em todo o país, sob a acusação de serem pornográficos e subversivos.
A pressa da Censura de Belo Horizonte não teve seguidores em outros lugares (certamente porque as repartições públicas não trabalhavam nos fins de semana). Por isso, no final de semana (23 a 24 de junho), as filas nas portas dos cinemas se espicharam. Na trabalhosa e às vezes divertida caça ao brinquedo proibido, as filas iam tecendo sua rede de dúvidas, ou indignação, ou frustração. Todos queriam saber o que lhes havia sido vetado.
Em São Paulo, o cine Gazeta vinha vendendo, diariamente, uma média de 400 ingressos do filme ?Sacco e Vanzetti? (mais um dos censurados), mas, no sábado (23 de junho), 2500 pessoas espremeram-se no cinema.
?Aquilo não era uma fila, parecia um comício. Me deu um medo danado?, contou o gerente do cine Gazeta, Abílio Garcia, que se confessava impotente para atender aos telefonemas e controlar um modesto câmbio negro na porta. Vários rapazes compravam ingressos (8 cruzeiros) para vendê-los por 10.
O esforço das platéias foi premiado por elas mesmas. As cenas mais inflamadas de ?Sacco e Vanzetti? e as mais ardentes de ?Toda Nudez? ganhavam aplausos.
Os 10 filmes banidos pela Censura acabaram, realmente, saindo de cartaz na segunda-feira (25 de junho). Na quarta, o cine Gazeta colocava um cartaz de ?Sacco e Vanzetti? na porta e desafiava, em letras vermelhas: ?Brevemente este filme voltará a ser exibido?.
?Laranja Mecânica? e ?O Último Tango em Paris?
Também, em 1973, em Porto Alegre, uma agência de turismo organizou a ?Excursão Laranja Mecânica?, que levou 36 fanáticos por cinema a Montevidéu para assistirem a ?A Clockwork Orange?, proibido no Brasil. Outra agência, a Unesul, organizou a ?Operação Último Tango?, igualmente rumo a Montevidéu. No Uruguai não existia a censura de filmes, apenas recomendações de um conselho, que mandava colocar uma franja verde nos cartazes dos filmes considerados eróticos e uma vermelha nos violentos.
?Dona Flor e seus Dois Maridos?
Em 1977, as pessoas que passavam diante do cine Ipiranga, no centro de São Paulo, assistiam literalmente a uma troca de cartazes, só que do mesmo filme, ?Dona Flor e seus Dois Maridos?. Por ordem da Polícia Federal, o cinema teve que arrumar às pressas um pintor que acrescentou ao cartaz original um calção no despido ator José Wilker e, com a arte possível, desviou para frente a mão que antes repousava nas nádegas de Sônia Braga. O espaço de sobra nesta parte do corpo da atriz foi, finalmente, tapado com uma pincelada de tinta, provocando um efeito semelhante ao dos socos nas histórias em quadrinhos.
?O Encouraçado Potemkin?
Em 1980, voltou a ser exibido em circuito comercial, o filme ?O Encouraçado Potemkin?, do russo Serguei Eisenstein. O filme estava banido das telas brasileiras durante dezesseis anos.
O filme soviético, feito em 1925, saiu de cena em 1964, depois de ter sido aberto um inquérito para investigar sua exibição para marinheiros. Desde então, ele trafegava por um circuito semiclandestino formado por salas de universidades e cinematecas. O filme é mudo e descreve, em preto e branco, a rebelião dos marinheiros russos contra a ditadura czarista, em 1905. Os subalternos do navio de guerra matam seus oficiais e essa subversão da hierarquia levou a Marinha Brasileira a vetar a obra de Eisenstein.
A liberação foi formalizada pela Polícia Federal em fevereiro de 1980, para maiores de 10 anos e a sua primeira exibição foi em 1º de maio. Logo no primeiro dia, 899 pessoas passaram pelas bilheterias do cine Paramount, em São Paulo.
Fonte de pesquisa: Revistas ?Veja? de 1973, 1977 e 1980



loading...

- Cinemas De Luxo Eram As Vedetes
Por Roberto Hirao (Colunista do jornal ?Agora São Paulo? e autor do livro ?70 Lições de Jornalismo? ? Editora Publifolha ? 2009) O Marabá é um gigante diante das atuais salas dos shoppings, mas é pequeno se comparado com os cinemas antigos....

- O Cine Ipiranga E A Mostra De Cinema De 2004
Em 2004, Leon Cakoff e Renata de Almeida, diretores da Mostra BR de Cinema, realizaram a cerimônia de abertura do evento no cine Ipiranga, uma das mais tradicionais salas da cidade (de 1943), perto da esquina imortalizada pela música ?Sampa? (Rua Ipiranga...

- Tempos De Tubarão
Revista ?Veja?, 31 de Dezembro de 1975. Comprimida diante dos cinemas Gemini 1 e Gemini 2, na Avenida Paulista, em São Paulo, a multidão ondulava num incontrolável empurra-empurra. De repente, em meio a cotoveladas, palavrões e olhares raivosos,...

- Programa Mais Cultura, Do Governo Federal, Promove O Cine Mais Cultura
Com a concentração de salas comerciais de cinema em apenas 8% do território nacional e a quantidade muito reduzida de obras audiovisuais brasileiras na TV, a maioria dos filmes produzidos no país permanecem inéditos para grande parte de sua população....

- Grandes Empresários Da Exibição Cinematográfica: Adhemar De Oliveira
Adhemar de Oliveira, cineclubista dos anos 80, é hoje um dos maiores exibidores do país. Seus cinemas se diferenciam de outros multiplex (cinemas de shopping), porque suas salas mesclam a exibição de filmes independentes e de grandes produções...



Cinema








.