Crítica: Introdução à Música de Sangue
Cinema

Crítica: Introdução à Música de Sangue


Por Fabricio Duque

No último Festival de Gramado, tanto a opinião da crítica, quanto de boa parte de seu publico, adjetivaram com ferrenha depreciação o mais recente filme do cineasta Luiz Carlos Lacerda (de ?For All - Trampolim da Vitória?; ?Viva Sapato!?, ?Mãos Vazias?), conhecido como ?Bigode?, ?Introdução à Música de Sangue?, baseado no argumento de Lúcio Cardoso, considerado o ?mestre da introspecção psicológica?, e dedicado a Paulo Cesar Saraceni. Porém, o filme em questão aqui, não se apresenta tão ?horrível" assim como foi ?destruído" aos ?quatro ventos?. Não. Tudo bem que está longe de ser uma obra-prima, tampouco ?recheado" de maestrias, mas sim há qualidades. Principalmente na questão técnica, que inclui sua fotografia (de reflexos e luzes de velas), sua narrativa de simplicidade ritmada-cadenciada, ora subjetiva, que busca abrigo no bucolismo-naturalista interiorano de tempo ?tedioso" parado, em ações-ambiência de vida contemplativa, cumplicidade silenciosa e "hospitalidade" desconfiada (inicialmente), como a costura e a goiaba ?tirada do pé?, de uma família, que se vê às voltas com as ?mudanças? (praticidade do "progresso" e da luz elétrica, o rádio que informa a sazonalidade dos alimentos plantados, um visitante "metafórico" com a camisa "Libertas Quae Sera Tamen", os iminentes ?dias de festar" e as descobertas desejosas de ?mocinha" da ?filha? - a ?paixão encantada? e de instinto sexual pelo ?misterioso estrangeiro"). Quando a música sentimental é introduzida no início propriamente dito da trama, talvez, busque-se uma personificação deste ?crescimento?, que é ?assaltado" pela artificialidade comportamental e pela explícita cena dos cavalos correndo, indicando a perda da inocência e da pureza (o desejo incontrolável pelo sexo e de se tornar mulher ?casada" - lavando inclusive a camisa favorita do ?futuro marido?). E com a frase ?A única liberdade que uma mulher como eu tem é o silêncio? é que o era maestria começa a ?degringolar?. As interpretações soam forçadas e não convincentes, e é aí que infelizmente (ou felizmente) se percebe o insight revelador: enquanto os atores veteranos (Ney Natorraca - o "Neyla" e Bete Mendes) permanecem no anti-naturalismo ?lido?, os novos (Armando Babaioff e Greta Antonie) excetuam-se pelo naturalismo e credibilidade na encenação. Até mesmo o ritmo é desconstruído. Propositalmente? Esperamos que sim. Conversa-se sobre cerâmicas e louças, tenta-se surpreender com o teor narrativo da confusa reviravolta, e ?perde-se? como por exemplo, a curiosidade da ?matriarca" em querer, depois de tanto tempo, o porquê do nome de seu ?marido?. O longa-metragem ?assenta-se? no pessoal, na ?amizade interpretativa?, em uma palatável facilidade do roteiro e na ?exploração corporal? em prol da história (a nudez de Babaioff - que estimula o "pornô" e da Greta - suavizado por sua natural sensualidade, que se mantém inclusive na ?colherada" à boca). Contudo, ainda assim, mantém o limite entre ?beirada? (com a ?velha sem idade para essas coisas?) e ?fundo? do precipício (pelas reações pós-ato do ?velho tarado? com a ?novinha?). ?Introdução à Música de Sangue? permeia simbolismos, liberdades, críticas a ?televisão que fica igual cinema? e vai exacerbando a ?preguiça? da interpretação (mais forçada, mais inconsistente, mais caricata). Concluindo, um filme que os baixos ganham dos altos, que gera a sensação ?bobinha" na visão totalitária analítica., que se vende como "entre o mundo arcaico e o contemporâneo, uma família vive suas angústias numa atmosfera de desejo e repressão?. Reiterando, não é o pior filme de todos os tempos, mas também está bem longe de ser o melhor.



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