Cinema
Crítica: Minutos Atrás
Minutos Que Ganham O Futuro
Por Fabricio Duque
Antes de traçar linhas sobre o filme em questão aqui, ?Minutos Atrás?, faz-se necessário um preâmbulo explicativo a fim de situar o espectador a seu realizador. Caio Sóh não é muito fã da ?mesmice? cinematográfica, aproveitando-se para experimentar estilos em cada trabalho. Começou como ator, interpretando o Guto no seriado televisivo ?Maysa - Quando Fala o Coração?, mas dois anos depois, em 2011, inseriu-se na direção, logo em um longa-metragem, ?Teus Olhos Meus?, recebendo prêmios como o de melhor filme no Los Angeles Brazilian Film Festival e melhor filme segundo o júri popular na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Caio continuou com o teatro, vencedor do Festival de Teatro do Rio por duas vezes com os espetáculos ?Por trás do céu? e ?Minutos atrás?. Em seu filme de estreia foi utilizado uma linguagem de novela realista, muito parecida com a estrutura fílmica de Oswaldo Montenegro, principalmente por ?Leo e Bia?. Já em ?Minutos Atrás?, exibido no Festival do Rio 2013, Caio transpõe à tela grande seu texto encenado. O filme ambienta-se por um espetáculo circense filmado, epifânico, surreal, quase uma literatura de cordel, de poesia concentrista e acima de tudo de atores. O existencialismo metafórico dos diálogos, quase monólogos e catárticos (ora de esperança, ora de resignação, ora de súbita alienação), ?acorrenta? o público ao despersonificar elementos visuais como o cavalo ?ruminante? (interpretado por Paulinho Moska - que também assina a trilha sonora original junto com André Abujamra), criando-se assim atemporalidade da fantasia ?tosca? (meio brincadeira de criança, meio Michel Gondry, até mesmo meio ?Dogville?, de Lars von Trier - visto que há tentativa de expansão conceitual). ?O humano é um bicho engraçado?, diz-se em uma fotografia prata, estilizada a uma nostalgia palpável. ?Eu não comprei o futuro?, inferindo-se outros escritores, como Adriana Falcão e Manoel de Barros. Poetiza-se ações, as adjetivando, ?apoderando-se? de atos do teatro grego, de Ariano Suassuna (?Pedra do Reino?) e de um Samuel Beckett mais perspicaz, mais engraçado e menos pessimista, transpassando a não desistência (por uma verdade quase explícita - tipo universo infantil). ?Sonhar é de graça?, diz-se. Definitivamente, o diretor, casado com a atriz Nathalia Dill, é um contador de histórias nato, que ?ouve? e que ?não tem medo do destino?, estimulando a imaginação de quem assiste, em uma auto-ajuda (?Parar o relógio do tempo é viver?) que não ?limita a criatividade? (?Não me xingue de sóbrio?). O cenário, propositalmente simples, lembra fantasias de carnaval. É um filme sobre a existência. Sobre como sobreviver. Logicamente, pela verborragia empregada, o ritmo é perdido algumas vezes, como no final, mas o contexto não é prejudicado. Os três atores, Vladimir Brichta, Otávio Müller e Paulinho Moska, entregam-se sem ressalvas, sem ?esperas?. Estão ali se divertindo, despretensiosamente. Talvez, este seja o elemento de sucesso de ?Minutos Atrás?, que até agora, busca-se uma definição de gênero e não se encontra. Concluindo, um filme ?curioso?, obrigatório, incrível. Recomendo.
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