Crítica: Meteora
Cinema

Crítica: Meteora


Por Fabricio Duque

?Meteora?, exibido no Festival de Cinema de Berlim de 2012, apresenta-se como o novo longa-metragem do diretor grego-colombiano Spiros Stathoulopoulos, que se tornou sensação ?evolutiva? com ?PVC-1?, em 2007, um plano único de oitenta e cinco minutos. A adrenalina ?verborrágica? visual de seu primeiro filme modifica-se completamente e ?ganha? silêncio existencialista em ?Meteora?. Ele objetiva ?mergulhar? no ambiente do universo bizantino, paralisando o tempo físico a fim de construir uma maior veracidade naturalista de ações e reações. Cria-se, propositalmente e de forma magistral, o tédio, buscando ?abrigo? sóbrio (quase explícito) nas referências fílmicas (cenográficas) a ?Sebastiane?, de Derek Jarman e na cinematografia de estética narrativa do cineasta ?psicomago? chileno Alejandro Jodorowsky, e gerando assim adjetivos como ?esquisito?. A definição, em hipótese alguma depreciativa, acontece unicamente pelo querer de se experimentar uma releitura de um tema comum: monge grego apaixona-se por uma freira russa. ?Meteora? significa em grego ?meio do céu?, um dos maiores e mais importantes complexos de mosteiros do Cristianismo Oriental (Patrimônio Mundial da Unesco), construídos sobre pilares de rocha de arenito, na região noroeste da planície da Tessália, lugar próximo à terra natal do diretor em questão aqui, que começou a fazer ?filminhos? já com quatorze anos, depois que seus pais emigraram da Grécia a Colômbia; e que ?resgatou? um estado monástico rudimentar, mesclando projeções de uma possível realidade iminente pela estética animada de movimentos personificados advindos da pintura de um quadro bizantino, tentando suavizar a polêmica religiosa. Logicamente, uma homenagem a Jodorowsky, que se dedicou a escrever histórias em quadrinhos. Os monges eremitas, procurando um refúgio seguro à ocupação otomana, encontraram nos rochedos inacessíveis de Meteora um refúgio ideal. A narrativa mostra planos longos (porém editados aos olhos do espectador), reações sem pressa e sem pudores (mas também sem ser lento) e um questionamento religioso ao se utilizar os próprios trechos da Bíblia (incluindo ?prestações de conta? com Deus), assim como seus ?simbolismos? litúrgicos e indicativos à tentação e ao desejo pecaminoso. O filme intercala também momentos com uma comunidade interiorana atual, contrastando nostalgia temporal com princípios intrínsecos cristãos e que procura conjugar ?desespero? com ?liberdade?. Concluindo, um longa-metragem de curta duração, setenta e sete minutos, que traduz ?frutos proibidos? (e acesso aos mosteiros por guindastes) com o contraste da castidade intransigente e do pudor insaciável da nostalgia atemporal, entre anseios do espírito e da carne humana.



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