Henrique Dantas é baiano, diretor do filme "Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano" grande vencedor do Festial In-Edit deste ano e que por isso abriu a "edição" Soteropolitana do festival. Eu tive alguns minutos de prosa com ele que resultou em uma conversa bem franca e interessante sobre cinema, as dificuldades de se produzir um documentário no país e como a Bahia esta produzindo obras interessantes e se fazendo relevante novamente na 7ª arte.
1 - Nós sabemos o quanto é difícil fazer cinema no Brasil que não é voltado para o grande público, como foi fazer esse documentário?
Foi bem difícil, fazer um documentário sem ter nome no mercado ou ser apadrinhado de alguém foi uma parte desse desafio. Outro trabalho também é vender esse projeto e falar para os produtores que tem mercado, que as pessoas vão ver, entre outras coisas. Acho que é a mesma coisa que acontece com um músico que no início para vender o seu trabalho vai de porta em porta e fala que tem um sucesso. Mas claro que nem todo mundo vai acreditar e bancar, não é assim que funciona.
Mas depois que saiu o resultado do estudo de aceitabilidade feito pela a UNB as coisas ficaram melhores, ele apontava que 98% dos espectadores indicariam o meu documentário para outras pessoas assistirem. Desse momento em diante eu não precisava mais vender a minha idéia, já tinha ao meu lado esse estudo que validava o meu esforço. Hoje também a burocracia por trás do financiamento e incentivos dados pelo fundo de cultura também ajudaram, pois esta mais fácil ajudar a produzir filmes fora do eixo como o meu.
2 - Da construção até vencer esse prêmio, como foi a trajetória do filme até chegar ao In-Edit?
Depois de pronto eu fui inscrevendo o filme em vários festivais, para que ele ganhasse mais visibilidade. Infelizmente muitos desses prêmios são dados a produções inéditas ou que acabam de ficar prontas. Considero que o prazo de validade para um filme se manter participando de festivais seja de mais ou menos 1 ano e meio. Já estava meio que desacreditado de ter sucesso nos festivais quando me inscrevi no de Brasília e lá o resultado foi diferente
Mas para participar do In-Edit eu meio que teria que adiar a estréia do filme, pois a produção não poderia ser inscrita se já tivesse ido aos cinemas. Eu negociei isso com a produtora, porque desde o início quando me propus a fazer esse filme o Marcelo (Andrade - idealizador do evento no Brasil) me falava para inscrevê-lo no In-Edit. Como nós nos conhecemos lá em Barcelona na época que ele morava lá e ficamos amigos; eu topei.
3 - De onde surgiu a idéia de fazer uma obra sobre os Novos Baianos?
Primeiro por eu ser fã e nunca ter visto alguém contar a história deles desta maneira. Eu também queria fazer algo sobre o qual gostasse, acho que é melhor e mais legítimo fazer um documentário sobre algo que se gosta. As pessoas que anteriormente falaram ou trataram dos Novos Baianos nenhuma delas era baiana e isso me estimulou também. Ora; eu sou um baiano e queria dar um pertencimento a essa história, desse grupo que tem haver com a minha identidade; coisa que não tinha sido feito ainda ao meu modo de ver.
4 - Como você vê o cinema baiano hoje em dia que já teve tantos ícones?
Eu sou muito fã e respeito muito as pessoas que vieram antes de mim, muito mesmo. A Bahía e o cinema são muito ligados, somos um povo que é sedento por cultura que vai e assiste aos filmes, comentam, indicam. Acho que estamos voltando a produzir coisas boas, na verdade estamos voltando a produzir. Eu posso citar mais ou menos uns 15 filmes feitos e produzidos por gente daqui (aponta ao redor e cita alguns diretores presentes no evento com produções em andamento) documentários, romances e várias outras coisas. Alguns já prontos, alguns sendo feitos e outros no início do seu projeto e isso é muito bom, ver e fazer parte disso é muito bom.
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