Cinema
Crítica: Being Boring
Por Fabricio Duque
Um dos principais questionamentos sobre o filme ?Being Boring? é a mensuração da experimentação cinematográfica. Qual é o ponto que uma videoarte transcende o limite da criatividade e se transforma em um sucessão pretensiosa de estilo egocêntrico? A obra do diretor Lucas Ferraço Nassif (de ?Eu?), que na apresentação na Semana dos Realizadores 2015 disse não saber definir o próprio filme (e que o projeto custou cinquenta reais - "para um jantar e um vinho?), conversa com as infinitivas possibilidades do olhar do espectador. ?Being Boring? é um longa-metragem, que foi filmado em uma única noite, de narrativa em ?loop?, repetindo ações, como se fossem ?gifs?, e que se baseia no quarto álbum, ?Behaviour?, do grupo pop Pet Shop Boys, cujo título do filme é uma das faixas, que por sua vez, busca a atmosfera do clipe da música referenciada. A sinopse nos conta que em uma frágil tentativa de encenação, um casal (os atores Andrea Pech e Bráulio Cruz) teve sua performance delimitada. Ao considerar as dificuldades, a dança em conjunto é executada com um sentado e outro em pé, lidando com os lugares oferecidos e acumulando em seus movimentos desconforto e sucesso. Assim, detalhes são inseridos como a camisa MTV, a imagem refletida no espelho, o livro folheado, as telas de projeção, a dança, a bebida, o sono, o cigarro, o voyeurismo e em determinados momentos, a câmera em plano sequência que permanece estática durante todo o período de uma música (com sutis indicações temporais - do abajur e do sol). Nós tentamos o entendimento de alguma mensagem objetivada. Nossos pensamentos aceitam o lado conceitual, midiático e a experimentação recorrente das mesmas cenas com outras músicas. E até mesmo com outra capa de outro grupo, Sonic Youth. E até mesmo a repetição das telas pretas e das imagens propositalmente amadoras (achamos!) que reverberam fragmentos livres e transgressores da não limitação visual. A câmera tem seu protagonismo e se comporta subjetiva, meta-linguística, personagem, cúmplice, modificando ângulos com os mesmos movimentos, subvertendo a ordem e imprimindo a liberdade da imagem. Nossa percepção é modificada. Talvez o conhecimento agradável de uma música manipule nosso gostar, fazendo com que nossa aceitação seja ampliada. Talvez não seja um filme musical, e sim instantes em videoclipes. Talvez, o conceito claro-explícito só funcione nas ideias de seu diretor e que ao espectador só resta a inferência sobre o que se vê. Lucas tentou traduzir seu filme, mas não conseguiu. Disse que o espectador precisa sim da cumplicidade e de paciência para que possa adentrar no objetivo. Concluindo, é um filme-exercício estético visual, que caminha nos gatilhos comuns óbvios, na pretensão vazia, na falta de direcionamento, na manipulação da própria música já conhecida. E que nada mais é que um rascunho criativo de algo que não se consegue descobrir muito bem, mas que é altamente curioso, corajoso e de uma exposição máxima e latente de seu criador.
loading...
-
Crítica: In Natura
Por Fabricio Duque ?In Natura? é aquele típico filme que um crítico não consegue esperar para traçar linhas analíticas. Talvez em um primeiro momento, o filme possa soar uma obra vazia sobre o nada. Não é. Pelo contrário, é a transposição...
-
Crítica: Tudo Vai Ficar Bem
Por Fabricio Duque ?Tudo Vai Ficar bem?, exibido no Festival de Berlim 2015, é o novo filme do mestre-cineasta alemão, Win Wenders (de ?Asas do Desejo?, ?Buena Vista Social Club?, ?Paris, Texas?, ?O Amigo Americano?), que não tem medo de experimentar...
-
Crítica: Cavalo Dinheiro
"O cinema de Pedro Costa é sobre a aceitação das características das coisas", disse o fotógrafo Leonardo Simões. Por Fabricio Duque Há muito tempo, o Vertentes do Cinema não saía tão impactado (e ?chapado? - a palavra certa) de uma...
-
Crítica: Noite
?Esse filme trouxe a vida para mim. A minha relação com a câmera estava nos primórdios do meu trabalho. Uma relação física. A música me imobiliza. Cria uma tensão entre o ouvinte e quem está lá. É um êxtase. Como se atravessasse um furação....
-
Crítica: O Uivo Da Gaita
Por Fabricio Duque O diretor Bruno Safadi apresenta seu novo filme "O Uivo da Gaita", que faz parte da Operação Sonia Silk, série de três filmes de longa-metragem produzidos de forma cooperativa, com mesmo elenco e equipe, coproduzidos pelo Canal...
Cinema