Cinema
Crítica: O Poder da Província de Kangwon
O Tédio Resiliente do Cotidiano
Por Fabricio Duque
"O Poder da Província de Kangwon" apresenta-se como o segundo longa-metragem da filmografia do diretor independente e sul-coreano Hong Sang-Soo. O filme de 1998 imprime características referenciais a outros cineastas como o francês Éric Rohmer, o japonês Yasujiro Ozu e o tailândes Apichatpong Weerasethakul, principalmente pela narrativa empregada. Busca-se o silêncio interno da melancolia contrastando com o universo barulhento do meio ao redor. A narrativa utiliza-se de elipses a fim de construir uma colcha de retalhos de pequenos contos, que se cruzam em algum determinado momento. O contexto é o menos importante. O foco está no instante único do que realmente acontece, superexposta pelos ângulos estáticos da câmera e seus planos longos, contemplativos, distantes e de voyeurismo. A trama indica a resiliência do tédio, equilibrando-se entre o desespero radical e a alienante resignação. A natureza é retratada com beleza, claridade, magnitude e imponência, diferenciando-se da estética cosmopolita da cidade, que se apresenta fria, nublada, sem atrativos, como caixas (sem o clichê da imagem perfeita). É o embate do concreto com o abstrato. A realidade versus a inspiração natural. A narrativa concentra-se no presente, sem esquecer o passado dos personagens (mas sem os abordar). A naturalidade infere o tom quase documental, por causa das ações do dia-a-dia (a bebedeira com o vinho de arroz, o banho com ou sem banheira, o sexo técnico da prostituta, o trabalho, as refeições,a camisa M&M, a Coca-Cola, o hidratante Nivea, o café amargo, o colírio ruim por ser do Japão, o aborto, a felação), analisando-se assim a vida, em um conversa despretensiosa e amigável. Uma das características presente na filmografia de Hong Sang-Soo é a conservação da amizade incondicional e de pureza sentimental, sempre tendendo ao Budismo. O gênero autoral gera o molde a própria conjugação dos caminhos que os personagens passam, tentando "sobreviver" em um mundo dotado de regras intransigentes e confusas. Despertam a gentileza robótica, e de tanto repetir, torna-se elemento enraizado. A simpatia exaspera a agitação da alma, mitigando a verdadeira reação (realizando-se assim a consequência que se espera por todos - exemplo à explosão da raiva com o amante e ou do choro exagerado e descompassado em um trem quase vazio). Os sentimentos do medo, ternura, dependência emocional, frustração e distanciamento confundem-se entre si, desencadeando a errônea, e sem sentido, impressão de ser um quando na verdade deve-se usar o outro. Concluindo, um filme necessário, que funciona para mostrar a evolução do cineasta quanto às técnicas cinematográficas, como a inclusão, no futuro, da zoom recorrente. Não digo com a conotação de melhoramento ou não, apenas no aspecto de experimentação.
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