Crítica: Pronto Para Recomeçar ( Everything Must Go)
Will Ferrel (Os Outros Caras, Carros Usados - Vendedores Pirados) não é nem de perto um dos meus atores preferidos e costumo vir aqui falar mal de suas comédias bobas e sem graça. De toda forma, precisamos admitir quando alguém acerta em algo e geralmente quando este foge do estereótipo de personagem que está acostumado, termina fazendo bons dramas e bons trabalhos. Um exemplo desta afirmação é o filme Mais Estranho Que a Ficção, no qual ele tem uma interpretação muito convincente e cativante. O roteiro de seu novo filme é baseado na história de Carver Raymond, um alcoólatra que perdeu a maioria das coisas em sua vida e que conseguiu se recuperar e reconquistar o amor de sua esposa, a poeta Tess Gallagher.
Neste seu novo drama, Ferrel interpreta, portanto, um alcoólatra que no mesmo dia em que é demitido da empresa que trabalhou por 16 anos, encontra todas as suas coisas jogadas no jardim, sua casa de fechadura nova e um aviso da esposa informando que ela estaria lhe deixando. Revoltado com a situação, ele decidiu que iria morar no jardim mesmo, mas aos poucos foi percebendo que este seria o momento de dar uma guinada na vida e recuperar a vontade de viver. Para isso ele teria que fazer uma espécie de jornada, na qual iria perceber que precisava se desapegar das coisas, viver novas amizades e conhecer pessoas interessantes.
O filme não foi tão vendido assim para o público, mas isso é algo fácil de se explicar. Os acontecimentos são um pouco lentos e o clima de tristeza toma conta de grande parte da produção. Quando nós imaginamos que não tem como piorar a situação do personagem principal, ela consegue ficar mais tenebrosa e mais triste ainda. Não se trata de uma produção que irá nos apresentar uma volta por cima e segue exatamente a linha de pensamento de seu protagonista, sem saber exatamente aonde ir, mas ciente do momento fúnebre que está passando. Há uma mensagem no mínimo interessante no roteiro, que nos faz pensar sobre quem realmente somos entre quatro paredes. Por viver no jardim, Nick passou a ter sua vida exposta e passou a ter consciência de que todos os seus vizinhos conheciam e já sabiam de seu drama. O que ninguém percebe é que dentro da segurança de sua casas e atrás das cortinas estão presentes grandes problemas que não são externalizados ao mundo real. É exatamente isso que Nick vai percebendo com o passar dos dias em sua "casa" estranha.
Não estamos falando de um filme espetacular, mas simplesmente de um trabalho que só por fugir do clichê e das mensagens forçadas de auto ajuda, já se mantém acima da média. Em nenhum momento deixamos de acreditar na virada do mundo do personagem, mas não deixamos de imaginar isso num contexto realista. A atuação de Ferrel está muito boa e mais uma vez ele demonstra que é muito mais do que um ator de comédias pastelão. Rebecca Hall (Atração Perigosa, O Grande Truque) está bem, mas diante de um personagem mal aprofundado e pouco explorado. Laura Dern (Jurassic Park) merecia aparecer um pouco mais, porém no pouco que apareceu, nos agraciou com um dos melhores momentos da produção. A verdade é que quem se destaca mesmo é o menino Christopher Jordan Wallace (Notorious B.I.G), que faz o papel da amizade improvável do protagonista e do funcionário que ele encontra para vender as suas peças no "bazar", montado no jardim.
A direção se mostrou muito competente e conseguiu dar andamento coerente e psicológico ao problema com álcool. Dan Rush demonstrou que para causar impacto ele não precisa exagerar ou ser extremista...Basta ser verdadeiro.
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