Cinema
Manual de sobrevivência para Cannes - parte I
O Antestreia, o único blog português com dois jornalistas em Cannes, apresenta aos seus leitores um guia imprescindível.
A sexagésima edição do Festival de Cannes começa a dezasseis de Maio próximo. No passado dia 19 fez a sua conferência de imprensa de apresentação (a que o blog fez eco) e, por isso, a menos de um mês do arranque é altura de se darem as dicas para sobreviver a tanto filme.
Com mais jornalistas acreditados do que qualquer outro evento cultural ou desportivo, com 9900 filmes em carteira entre produções e pré-produções, competições e mercado, uma oferta de mais de noventa filmes diários nas dezenas de salas onde se desenrola, a tarefa de sobreviver a esta imensa feira do audiovisual, é árdua. Cannes continua a ser o centro do mundo do cinema e não há concorrência que lhe faça frente. Se Cannes é a Meca do cinema, então é lugar de peregrinação pelo menos uma vez na vida, mas para os que iniciam esta viagem há rituais a ter em conta por isso aqui está o manual de um veterano.
Manual de sobrevivência para o Festival de Cannespor António Reis Em Cannes há quatro classes de pessoas: os mirones, as estrelas, os jornalistas e os compradores. Os mirones limitam-se a deambular pela croisette na expectativa de tropeçarem em alguém famoso. Como não têm cartão têm a liberdade de ficar à porta. As estrelas vivem como reis e rainhas, longe do comum dos mortais. Na passadeira vermelha acenam à populaça e contribuem a seu jeito para a grande ilusão do Cinema. Os jornalistas são na maior parte os escravos, obrigados a levantar muito cedo, a enviar muitas peças. Se forem também fotógrafos a situação piora pois têm de esperar horas a fio para guardar um lugar aceitável nas alas do tapete vermelho. Reconhecem-se menos pelas máquinas fotográficas e mais por andarem de banco ou escadote para terem uma melhor perspectiva da carpete. Dos compradores há os que compram, os que são mais vendedores que compradores, e os que fingem comprar. Ao menos em Cannes não anda meio mundo a enganar a outra metade. Andam todos a enganar-se uns aos outros.
Concentremo-nos no essencial: 1. Alojamento Você ou é do tipo organizado ou jogador. Se for organizado marca alojamento com antecedência e paga um balúrdio seis meses antes de poder usufruir da estadia. Se tiver nervos de aço deixa para a última da hora e regateia os preços. Os portugueses enquadram-se nestes dois perfis, mas os segundos acabam sempre a rir-se dos maus negócios dos previdentes. A alternativa é dormir na praia entre as centenas de sacos-cama, com direito a cinema em ecrã gigante à beira-mar e banho de imersão incluído porque pelo menos um dia a maré cobre a praia. Para os mais poéticos poder-se-ia dizer que em vez de dormir sobre as estrelas se dorme sob…
2. Preços A zona compreendida entre a croisette, Rue d’Antibe e a marina é um autêntico Triângulo das Bermudas para o seu dinheiro. O plafond do seu cartão de crédito vai ter um rombo a cada utilização. Não que o custo de vida seja estupidamente caro, mas é suficientemente caro para apanhar os estúpidos.
(to be continued)
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