Seção CINEMA // Crítica Direito de Amar
Cinema

Seção CINEMA // Crítica Direito de Amar



Um Homem Chato


A Single Man

Nota: 8,0


Se eu for realmente sincero tenho que admitir que esperava bem mais desse filme. É o primeiro filme do estilista Tom Ford. Ele produziu, escreveu e dirigiu. Conhecendo bem o trabalho dele, principalmente com as suas famosas (e polêmicas) propagandas, só procurar no google pra conferir o estilo dele, e vendo o trailer (que eu achei poético, flui muito bem), já dava para esperar algo bem ousado, só não achava que ia ficar só nisso. A história é uma adaptação de um livro homônimo, da década de 60, creio eu, mesma época que o filme se passa.

No filme, um professor universitário, feito pelo Colin Firth, recebe a notícia que o seu pareceiro, o Matthew Goode, morreu num acidente de carro. E ele fica desolado. E a história fica só nisso... Aperecem mais algumas pessoas no filme (talvez pra não virar um monólogo), pessoas que convivem com ele, intercaladas com os diversos flash backs com o Matthew, como a Julianne Moore, que faz a melhor amiga dele, e tem sido muito elogiada, inclusive bem cotada nas premiações. Mas ela não faz nada no filme. Só tem uma cena importante, mas não é nada como a Viola Davis em Dúvida, por exemplo, algo que surpreende e comove.

Além do trio, ainda tem o Nicholas Hoult, que fez Um Grande Garoto e O Sol de Cada Manhã (que é tenebroso), e era o "vilão" do seriado britânico Skins, que eu adorava mas inventaram de dar uma de Malhação na terceira temporada, mudando todos os personagens e a história, aí eu parei de ver. Ele faz um aluno que joga todo seu charme (e grifes) pra cima do Colin. Tanto que sempre que ele aparece aumentam a saturação da imagem, pra colorir um pouco a vida dele (do Colin).

Ele sempre me lembrou um pouco o James Marsden, mas no filme ele tá tão embonecado, almofadinha, bronzeado e com o cabelo clareado, que eu só lembrava do Zac Efron. Com melhores interpretações, óbvio. Talvez fosse alguma citação a alguem e eu não reconheci. Tem das citações claras, como a Brigite Bardot americana, fumando na sala de aula, ou o James Dean espanhol na cabine telefônica do estacionamento do supermercado. Achei meio clichê. E tem também a Ginnifer Goodwin, que fez Johnny e June e Ele não Está Tão A Fim de Você, mas ela só faz acenar pros vizinhos nas duas (ou três) cenas que ela tem.

Um filme feito por um estilista, não podia pecar no visual. Se o filme não tem muita história pra contar, cenas silenciosas e plasticamente belas é o que não falta. Ele é primoroso nesse aspecto. Merece um Oscar de fotografia. Mas é uma estética bem gay. Nota-se pelo cuidado excessivo com a moda e em cenas como a que o Colin não consegue parar de olhar pra dois homens jogando tênis. A trilha sonora (incindental) também é ótima. Tudo é perfeito, calculado. Os figurinos, os cenários, tudo muito bem cuidado. Mas chega a ser tão perfeito que beira o kitsch, o cafona. Parece uma versão filmada de uma revista Vogue. Uma propaganda de perfume de uma hora e meia. Perfumes de grife, nada de Boticário, Água de Cheiro e afins...

Um lado bom também é que as cenas silenciosas do filme exploram muito as expressões faciais dos personagens. Todos estão ótimos nesse sentido, e no pouco mais que há pra se fazer. O Colin foi indicado ao Globo de Ouro, e é um dos favoritos ao Oscar também, mas acho difícil premiarem dois papéis gays seguidamente. Engraçado que tirando ele, trocaram as nacionalidades de todos (que falam) no filme. A Julianne, que é americana, faz uma inglesa, e o Matthew Goode e o Nicolas Hoult, que são ingleses, interpretam americanos.

E no fim das contas o homem solteiro, é só chato. Chato no sentido de apático. Não dá pra entender o comportamento dele. Ok, até dá, mas não exatamente pra concordar. Tudo bem ele sentir falta do que perdeu, mas parar de viver é que não dá. Além de muito esquisitão. Quem fica observando seus vizinhos pela janela enquanto tá na privada? Tudo é muito surreal. Só tem gente linda e esquálida, tirando o Colin, mas que também tá longe de ser no mínimo acima do peso, e não dá pra acreditar muito na história, faz tudo parecer muito fácil, como se oportunidades batessem na porta todo dia. Achei pouco verossímil. OK, vou ficar por aqui pra não entregar mais nada do filme.



UPDATE: Um detalhe que eu esqueci de comentar. Acho que o pior pecado do filme é a valorização exgerada (talvez imposição) da juventude e riqueza como padrão de beleza. Tanto que o Colin e o Matthew foram parceiros por 16 anos, mas nos flashback da cena que eles se conheceram, eles não mudaram nada. Esse é pra mim o pior lado do mundo da moda, que é algo muito forte nesse filme.


UPDATE 2: O título brasileiro é Direito de Amar. Quem foi o gênio que teve essa idéia de jerico? Parece nome de novela da rádio dos anos 50...


UPDATE 3: A "Brigite Bardot americana" é interpretada pela modelo brasileira Aline Weber. Ela não faz nada no filme além de fazer pose com o cigarro. Não tem nenhuma fala.



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