
Bom, o filme original acompanha a vida de jovens estudantes da escola de artes performáticas de NY. Esse aqui segue a mesma linha, mas com histórias diferentes, e que não deixa de ser uma faca de dois gumes. Se refazer cena a cena seria arriscado, mudar as histórias parece uma saída mais inteligente, porém elas podem ou não serem melhores que as originais. Não há como não cair na comparação. É uma batalha perdida. Se eu tivesse o poder de tomar decisões em uma produtora, refilmagens seriam proibidas, salvando raríssimas exceções. Porque pra sair um “Os Infiltrados”, saem antes mil “Psicoses” ou “Famas”.
No filme original a gente vê jovens lutando pra se superarem. São pessoas comuns, com seus problemas pessoais, e cada um com seu charme. Aqui já segue aquela linha seriado de TV adolescente. São todos lindos. Aquele universo paralelo que só existe em catálogo de agência de modelos. E são inexpressivos. Aparentemente menos talentosos que os jovens do filme antigo. Naquela época os recursos tecnológicos não eram tantos. Ou se tinha talento ou não. Hoje em dia podem transformar qualquer um em um grande cantor. Os efeitos especiais podem dançar por eles. Tudo parece muito pasteurizado, mecânico.
O filme original é de quase 30 anos atrás, mas o atual é muito mais careta. Esse povo não faz sexo, não tem um gay, não se toca em tabu nenhum, ninguém usa drogas. Não que eu faça apologia a drogas, longe disso, mas a gente sabe que o meio artístico sem tudo isso que eu listei não existe. O filme não expressa a realidade. As personagens são rasas, mal desenvolvidas, todas com os mesmos problemas. Lembrou Mudança de Hábito 2. Os jovens que vão contra a vontade dos pais e tentam ser artistas. E todos só se dão mal durante o filme, naquela seqüência de clichês. Dois são enganados, a outra quer uma coisa, a família quer outra, só perto da formatura a professora diz a um rapaz que ele nunca será bom o suficiente (o que eu achei de última, em todos os níveis imagináveis), entre outras situações afins. Enfim, aparentemente são todos medíocres. Fica aquela coisa, por que eu tô vendo isso então? Nem nos supostamente talentosos a gente bota fé no fim das contas.
Recriaram algumas das cenas clássicas como a dos alunos cantando na cafeteria, a da graduação e da Irene Cara cantando "Out Here On My Own" (vídeo clipe com várias do filme original aqui e apenas a cena aqui), mas achei bem inferiores às originais, inclusive as canções. A menina que canta é a melhor coisa do filme. É bonita, canta bem, mas mas não há a mesma profundidade, o mesmo sentimento. Pelo menos não tentaram refazer a cena da música tema em que os alunos dançam nas ruas. Usaram a versão nova pros créditos finais.
Os premiados Kelsey Grammer (Frasier) e Megan Mullally (Will & Grace) estão perdidos num roteiro que não os deixam crescer. Pelo menos o Kelsey tem a melhor fala do filme, quando um aluno reclama de ter que tocar música clássica no piano. Colocaram uma cena para a Megan cantar, mas eu achei a voz dela irritante. Funciona fazendo comédia, como ela fazia com a Karen, que a deu dois Emmys e três prêmios do sindicato. Adoro quando ela canta "Unforgettable" no último episódio da série. Mas fora dessa perspectiva eu não achei interessante. O lado bom é que esses jovens têm a chance de aparecer e tentar coisas melhores depois. Mas da próxima vez, fujam de refilmagens. Footloose, nem pensar! Previsão de outra bomba vindo por aí. A não ser que mudem totalmente o enfoque, como fizeram com Hairspray. Fica a dica.